Brian Butler Conjura o Demônio Bartzabel

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Aqueles que estavam dentro do santuário foram pastoreados pela segurança até um pátio envolto numa grande nuvem de incenso e fumaça, vibrando com os graves de uma caixa de som.

Uma aparição dividiu a névoa na forma de um figura usando uma túnica vermelha com capuz. Empunhando uma espada, ele solenemente atravessou o perímetro do palco negro decorado com círculos vermelho-sangue e um altar. Duas mulheres logo o seguiram, guiando uma pessoa vendada e amarrada até uma área triangular cercada de símbolos mistos. Tudo isso soa como parte de um capítulo não terminado de um livro de J. K. Huysmans, mas o evento estava sendo apresentado ao vivo em frente a uma plateia de quase mil pessoas — um amálgama curioso de artistas, ocultistas e subcelebridades que mostravam ao mesmo tempo uma variedade de antecipação, confusão e inveja.

A cena em questão, a última e mais grandiosa apresentação de Butler, foi uma performance de A Evocação de Bartzabel, de Aleister Crowley. O público, que lotou o pátio da galeria, foi o maior já reunido pra testemunhar o rito crowleyano.

Com o desenrolar do quadro, Butler aponta sua espada pro triângulo e pede proteção contra o mal. Reunindo seus poderes e atingindo um estado de exultação, ele se aproxima do triângulo e começa a entoar um cântico. Enquanto o espírito de Bartzabel é invocado, a figura vendada solta um grito de agonia — ele representa uma base material, o objeto onde o imaterial pode tomar forma. Seu corpo se contorce em rebelião contra a experiência sobrenatural pela qual está passando. Continuando, Butler interroga o espectro que habita o homem e faz com que isso jure obediência.

Muitos membros do público estavam envoltos em atenção reverente enquanto Butler solenemente supervisionava seu altar, mas outros estavam furtivos. Fundir arte e ritual numa configuração de galeria cria um casamento desconfortável pra quem não consegue compreender a solenidade de tais cerimônias e considera esses eventos como algo a ser assistido como espectador. Essas pessoas falham em reconhecer a natureza sutil e cheia de nuances dos rituais de Butler. Pra Evocação de Bartzabel, por exemplo, as figuras de túnica vermelha são colocadas contra um fundo negro, de onde tiram uma qualidade abstrata. Movendo-se, mas parecendo algo não tão humano, eles criam a sensação de espaço limiar. A luz e o cenário também são cuidadosamente planejados, criando padrões de sombra que reforçam os gestos de Butler. Essas amostras de luz e escuridão se congelam e se dissipam pra criar uma sensação de presença alternada e ambígua emanando de Butler, e consumindo aqueles que participam do ritual.

Alguns podem não gostar de ver algo que antes era secreto se tornar não só público, mas presente como espetáculo. Outros, como o especialista em Crowley Rodney Orpheus, autor de The Grimoire of Aleister Crowley e chefe da O.T.O. (Ordo Templi Orientis) na Irlanda, elogiam os esforços de Butler pra tornar o oculto menos opaco.

O perfil cada vez mais elevado dos rituais de Brian vem trazendo críticas a ele na forma dos ocultistas de poltrona, que ou não entendem sua intenção, ou falham em reconhecer a quantidade de estudo que entra em cada uma de suas performances.

A maioria das tentativas de realizar esses rituais de magia pro público dão com a cara no chão, principalmente porque os artistas não são capazes de realizá-los; ou porque são ótimos ocultistas e péssimos showmen, ou o contrário. São poucas as pessoas que têm habilidade nas duas disciplinas.

Brian Butler é uma dessas pessoas, aparentemente. Parte de sua genialidade como showman é o cuidado diligente com que ele seleciona os rituais apropriados — aqueles que vão não só atrair especialistas em ocultismo, mas também o público geral, e que tenham um aspecto específico pro local escolhido. A Evocação de Bartzabel é um exemplo perfeito. O discurso em si tem um grande apelo, sendo uma tentativa de Crowley de conceber um ritual que fosse poético e inspirador. Além disso, o ritual se encaixou perfeitamente no espaço, já que Butler estava conjurando um símbolo marcial e o prédio que abriga a L&M Arts já foi a casa de Ray Bradbury, o autor de Crônicas Marcianas.


O céu noturno nublado se abriu sobre o pátio da galeria enquanto Butler se aproximava do clímax. Agora, sob o brilho de uma lua profunda, Bartzabel teve licença pra partir. A sombra de Butler se une à das mulheres atrás dele e suas silhuetas escurecidas caem como um grupo sobre o homem vendado, triangulando pra fora e expressando a liberação da entidade. No momento do auge, Butler soca triunfantemente seu punho no chão e declara: “ABRAHADABRA!”. O portal está fechado, as mulheres levam embora o homem do triângulo, mancando e exausto; e o público, alguns já iniciados, outros perplexos, é liberado na noite escura.

Acesse o site brianbutler.com pra mais detalhes.

FONTE: VICE

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